Jacques Rodrigues detido por corrupção e fraude

23 de março 2023 - 11:56

O proprietário do antigo grupo Impala é suspeito de ocultar a dissipação de património, prejudicando os trabalhadores e restantes credores do grupo. Trabalhadores tinham denunciado a insolvência culposa da Descobrirpress.

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Jacques Rodrigues em março de 2021 num depoimento à Comissão parlamentar de Trabalho.

A Polícia Judiciária anunciou esta quinta-feira a detenção do empresário de comunicação Jacques Rodrigues por suspeitas  dos crimes de corrupção passiva, corrupção ativa, insolvência dolosa agravada, burla qualificada e falsificação ou contrafação de documentos. Outras três pessoas foram detidas.

No âmbito da operação batizada de "Última Edição" foram executados "trinta e dois mandados de busca, designadamente, oito buscas domiciliárias e vinte e quatro buscas não domiciliárias", além de quatro mandados de detenção e a constituição de dez arguidos. Foram realizadas "seis buscas em empresas com atividade no domínio da Comunicação Social, quatro em Sociedades/Gabinetes de Revisores Oficiais de Conta e uma em escritório de Advogado", adianta a PJ.

"Em causa está uma investigação criminal cujo objeto visa um plano criminoso traçado para, entre o mais, ocultar a dissipação de património, através da adulteração de elementos contabilísticos de diversas empresas, em claro prejuízo de diversos credores, v.g., os trabalhadores, fornecedores e o Estado, estando reconhecidos créditos num valor total de cerca de 100.000.000,00€ (cem milhões de euros)", prossegue o comunicado da Judiciária, acrescentando que existe a "forte indiciação do desvio de valores com origem nas estruturas societárias, para fora do território nacional, num montante global que ascenderá a largas dezenas de milhares de euros".

Esta operação da Polícia Judiciária teve origem numa queixa-crime apresentada por antigos trabalhadores.

Trabalhadores denunciaram "insolvência culposa" da Descobrirpress

Em dezembro passado, os trabalhadores do grupo anunciaram a apresentação de um "incidente de qualificação" nos tribunais para que administradores e acionistas da empresa, e em particular o seu dono, Jacques Rodrigues, paguem com o seu património as dívidas referentes ao não pagamento de salários e indemnizações. O grupo tem salários em atraso desde 2011 e os trabalhadores dizem que a Descobrirpress que editava revistas como a Maria, Nova Gente, TV7 Dias e VIP foi esvaziada de bens. A empresa foi declarada insolvente e a advogada dos trabalhadores, Catarina Costal, afirmou que “há mais do que indícios de que foi retirado património da Descobrirpress para ficarem lá apenas as dívidas aos credores. Não temos dúvida de que estamos perante uma insolvência culposa”.

Por outro lado, a advogada denunciou ainda que “a administração aliciou diversos trabalhadores para que estes fossem trabalhar para outra empresa do grupo perdendo todos os direitos que tinham adquirido ao longo dos anos que trabalharam para a Descobrirpress”.

Em resposta a esta notícia, Jacques Rodrigues alegou que o grupo Impala já não existe e que "é falso que a edição das Revistas fosse assegurada pela DescobrirPress, apenas produzia os conteúdos editoriais". Já quanto ao facto de a exploração daqueles títulos de imprensa terem sido deslocados da DescobrirPress para outras empresas, o empresário agora detido alegou que tem "a liberdade de colocar o negócio dos títulos ao serviço da empresa ou empresas que entender", refutando as acusações de dissipação de património feitas pelos trabalhadores e agora sob a mira da Justiça. Em seguida, interpôs um processo contra o Esquerda.net por alegadamente se ter sentido ofendido com a notícia destas denúncias dos trabalhadores.