IPCC alerta que escolhas climáticas “terão impactos agora e durante milhares de anos”

20 de março 2023 - 18:01

Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas refere que "a justiça climática é crucial porque aqueles que menos contribuíram para as alterações climáticas estão a ser desproporcionadamente afetados" e destaca que o tempo de agir é agora.

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Greve Climática - Foto de Paula Nunes.

O Relatório Síntese do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) divulgado nesta segunda-feira resume todos os relatórios do 6º Ciclo de Avaliação publicados entre 2018 e 2023. No documento, é deixado um alerta inequívoco: “As nossas escolhas e ações durante esta década terão impactos agora e durante milhares de anos”.

Os cientistas dizem que o tempo de agir é agora e que “manter o aquecimento em 1,5 graus Celsius acima dos valores pré-industriais exige reduções rápidas, profundas e sustentadas em todos os sectores”.

“As emissões deviam estar já a reduzir-se e terão de ser cortadas em cerca de metade até 2030, se queremos limitar o aquecimento até 1,5 graus”, escreve o painel de especialistas.

O futuro está em jogo e “as escolhas feitas nos próximos anos desempenharão um papel crucial na decisão do nosso futuro e o das gerações vindouras", acrescentam.

O problema é que as tendências não são animadoras. “As reduções até 2030 de gases com efeito de estufa que se deduzem das contribuições determinadas nacionalmente [NDC, a sigla em inglês, os compromissos de cada país para reduzir as suas emissões] anunciadas até Outubro de 2021 tornam provável que o aquecimento exceda 1,5 graus durante o século XXI e tornam mais difícil que o aquecimento fique abaixo de dois graus Celsius”, aponta o relatório.

“Sem um reforço das políticas projeta-se um aquecimento global de 3,2 graus até 2100 (previsão de média confiança)”, lê-se ainda no documento.

As desigualdades são marcantes também no que respeita aos efeitos das alterações climáticas, com os peritos a afirmarem que "já estamos a sofrer e continuaremos a sofrer no futuro, atingindo as pessoas mais vulneráveis e ecossistemas". Neste contexto, tomar a ação certa “poderia resultar na mudança transformacional essencial para um mundo sustentável e equitativo".

"A justiça climática é crucial porque aqueles que menos contribuíram para as alterações climáticas estão a ser desproporcionadamente atingidos", defende Aditi Mukherji, um dos 93 autores deste Relatório de Síntese.

O Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas também assinala a existência de “lacunas entre as emissões projetadas a partir das políticas postas em prática e as relatadas nos NDC”, e o facto de os fluxos financeiros ficarem “aquém dos níveis necessários para cumprir os objetivos climáticos em todos os sectores e regiões”.

Acresce que, “atualmente, há mais financiamento a fluir para os combustíveis fósseis do que para adaptação e mitigação (redução de emissões) climática”.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, considera que este relatório é um "guia de sobrevivência para a humanidade".

"Este relatório é um apelo claro à intensificação de esforços climáticos de cada país e de cada sector e em qualquer período de tempo. O nosso mundo precisa de ação climática em todas as frentes: tudo, em todo o lado, tudo ao mesmo tempo", vincou.