Enfermeiros dos hospitais privados estão em greve pela primeira vez

16 de março 2023 - 13:22

A Saúde não pode ser simplesmente um negócio de milhões", afirmou Catarina Martins na concentração em frente ao hospital CUF Descobertas. E considerou inaceitável que um setor que apresenta tantos lucros não atenda às reivindicações de quem "está a lutar pelo que é justo".

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Catarina Martins na concentração dos enfeirmeiros em greve. Foto Tiago Petinga/Lusa

À entrada do Hospital CUF Descobertas, em Lisboa, eram muitos na concentração que assinalou a primeira greve de enfermeiros nos hospitais privados portugueses. Estes enfermeiros reivindicam aumentos salariais de 10%, as 35 horas semanais sem perda de remuneração, o pagamento do regime de prevenção e aumento da compensação pelas chamadas horas penosas, além de 25 dias úteis de férias e a atualização do subsídio de refeição. A exigência foi subscrita em janeiro por 800 enfermeiros a exercer funções nos hospitais pertencentes aos grupos CUF, Luz e Lusíadas da área de Lisboa.

O Sindicato dos Enfermeiros Portugueses diz que "estas instituições estão abrangidas pela Convenção Coletiva de Trabalho da APHP e, apesar de nos últimos anos terem tido um aumento exponencial dos lucros, continuam em sede de negociação com o SEP a não aceitar nenhuma das propostas acima referidas, mesmo com as nossas tentativas de aproximação".

Presente na concentração, Catarina Martins lembrou que "o setor privado da saúde é um dos maiores negócios" e por isso "é inaceitável que estes enfermeiros tenham salários congelados há tanto tempo, que não tenham carreiras, que não sejam pagas as noites e horas extraordinárias como devem ser pagos".

"Estas enfermeiras e enfermeiros dão tudo e têm sido esquecidos. Sei que é difícil e sofreram imensas pressões para não fazerem greve, quem aqui está tem uma enorme coragem e está a lutar pelo que é justo. A saúde não pode ser simplesmente um negócio de milhões para alguns enquanto quem trabalha não tem condições", prosseguiu a coordenadora bloquista, lembrando que há ali profissionais "que não têm aumentos há quinze anos, estão a perder poder de compra todos os anos".

"Os privados usaram o SNS para se engordarem e depois esvaziaram os hospitais"

Questionada pelos jornalistas sobre as declarações do diretor-executivo do SNS, Fernando Araújo, que criticou a forma como se fez a transição dos hospitais PPP para a gestão pública, Catarina concorda, mas diz que não foi apenas a transição a ser mal feita. "Nas PPP nada foi bem feito. Enquanto estavam a frente dos hospitais, [os gestores privados] mandavam tudo o que era mais caro, os pacientes com patologias mais complicadas, para os hospitais que não eram PPP. E quando saíram - e saíram porque quiseram, porque queriam mais dinheiro - o que fizeram foi levar equipas inteiras de médicos consigo. É por isso que hoje vemos que os hospitais que foram PPP de repente ficaram sem pediatras", explicou Catarina.

"Os privados usaram o SNS para se engordarem e depois esvaziaram os hospitais, não deixaram lá nada. Enquanto lá estavam, apresentaram bonitos relatórios de contas porque mandavam as contas mais altas para os hospitais ao lado que não eram PPP e com isso criando problemas em toda a estrutura inteira do SNS", recordou a coordenadora bloquista.

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