Cientistas usam medicamento para a leucemia para travar cancro da mama

14 de março 2023 - 15:45

Num estudo publicado na revista Nature Cancer, cientistas britânicos dizem que uma experiência em laboratório permitiu travar o reaparecimento de tumores secundários despoletados por uma proteína pulmonar.

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Esferóide de células cancerosas da mama, SEM. Créditos: Khuloud T. Al-Jamal, David McCarthy e Izzat Suffian. (CC BY 4.0)

Um medicamento usado no tratamento da leucemia mielóide crónica pode vir a tornar-se numa ferramenta para evitar o reaparecimento de tumores cancerígenos anos depois de diagnosticado um cancro da mama do receptor de estrogénio positivo, a forma mais comum de cancro da mama. Na prática, seria desarmar a "bomba-relógio" dos cancros secundários, diz o estudo publicado na revista científica Nature Cancer.

"As células cancerosas podem sobreviver em órgãos distantes durante décadas, escondendo-se num estado dormente. Descobrimos como o tecido pulmonar envelhecido pode desencadear estas células cancerosas para 'despertar' e desenvolver-se em tumores, e descobrimos uma potencial estratégia para 'desarmar' estas 'bombas-relógio'. Pretendemos agora desvendar melhor como os doentes podem beneficiar do medicamento existente imatinib, e a longo prazo procurar criar tratamentos mais específicos dirigidos ao mecanismo do 'despertar'", explicou Frances Turrell, um dos investigadores do Institute of Cancer Research londrino, citado pelo site da instituição.

Depois de concluir que a proteína PDGF-C, presente nos pulmões, desempenhava um papel decisivo no estado dormente ou "acordado" das células inativas do cancro da mama, este trabalho liderado pela professora Clare Isacke usou o imatinib em ratinhos de laboratório com aquela forma de cancro da mama antes e depois do desenvolvimento dos tumores. E em ambos os grupos o crescimento do cancro no pulmão reduziu-se significativamente.

"Este é um passo em frente entusiasmante na nossa compreensão do cancro da mama avançado - e como e porquê as células cancerosas da mama formam tumores secundários nos pulmões. A seguir, precisamos de identificar quando estas mudanças relacionadas com a idade acontecem e como variam entre as pessoas, para que possamos criar estratégias de tratamento que evitem o 'despertar' das células cancerígenas", diz Clare Isacke.

Embora a experiência em laboratório seja promissora, ainda não é possível prever em que casos diagnosticados deste tipo de cancro da mama é que a "bomba-relógio" pode ser ativada no futuro. E os muitos efeitos secundários do imatinib, como a dor de estômago e cansaço levam a que "não se queira tratar alguém que não vá ter uma recaída". Por isso, mais investigações serão necessárias para determinar a aplicação desta descoberta ao tratamento do cancro em humanos.

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