Professores, técnicos e auxiliares voltaram a encher ruas de Lisboa

28 de janeiro 2023 - 16:25

Em defesa da escola pública, dezenas de milhares de pessoas voltaram a manifestar-se em Lisboa, desta vez com destino ao Palácio de Belém. Às razões do protesto convocado pelo Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (STOP) juntou-se a defesa do direito à greve.

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Manifestação pela Escola Pública este sábado em Lisboa. Foto de Manuel de Almeida/Lusa

Dezenas de milhares de professores, técnicos e auxiliares voltaram a protestar em Lisboa, na manifestação convocada pelo Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (STOP) em defesa da escola pública. Desta vez, a partida foi do Ministério da Educação rumo à Presidência da República, onde está prevista a entrega do caderno reivindicativo.

Mas a notícia da véspera de que o tribunal arbitral tinha decretado serviços mínimos à greve do STOP, que inclui professores e pessoal não docente, veio dominar as preocupações e o discurso do sindicato. "Já estávamos antes aqui pelos nossos alunos, agora estamos aqui também para que no futuro se os nossos alunos, os nossos netos, forem explorados, também tenham direito à greve", afirmou o líder do STOP à RTP no início da marcha.

André Pestana sublinhou que "cada vez há menos dúvidas que agora há um Governo descontrolado, déspota, autoritário, que não conseguindo desmobilizar com as outras formas de ameaça que fez esta grande mobilização, está a juntar não só professores mas também o pessoal não docente que é uma peça essencial para o trabalho nas escolas".

"Estes milhares de profissionais da educação, que dão o seu melhor diariamente para que este país funcione, estão a ser atacados, estão exaustos e com condições péssimas. E agora o seu direito à greve está a ser atacado e o Presidente da República, que é o principal defensor da Constituição da República, tem de a cumprir", prosseguiu André Pestana, que mais tarde avançou o número de cem mil manifestantes e sublinhou a importância desse "mar de gente ter aderido ao protesto que foi marcado apenas há sete dias”, após a reunião infrutífera com o Ministério.

No Palácio de Belém, está previsto que um representante da Presidência receba uma delegação do STOP e o seu documento com as razões do protesto. Questionado sobre o que diria ao Presidente se fosse ele a recebê-los, André Pestana respondeu que "citaria o Nobel da Paz Desmond Tutu: neutralidade perante uma injustiça é escolher o lado do opressor".

Catarina Martins: "A educação não é serviço mínimo"

Nas redes sociais, a coordenadora do Bloco publicou fotos da manifestação e contestou a ideia "de que cabe aos professores em greve garantir as funções essenciais de acolhimento e apoio social nas escolas". Isso "é apenas uma forma maliciosa de o governo colocar em causa o direito dos docentes à greve", afirmou.

"A educação não é serviço mínimo e a maioria absoluta não pode continuar a negar as condições básicas que as greves reclamam: carreiras e tempo de serviço respeitados, concursos transparentes, despesas de deslocação como noutras profissões, condições de trabalho", concluiu a coordenadora bloquista.

Professores querem justiça e dizem estar em causa o futuro da escola pública

"Não Paramos" e "União pela Educação" foram duas das palavras de ordem entoadas no início do cortejo, e os professores ouvidos pela RTP falaram do que os preocupa e das reivindicações que o Ministério da Educação tarda em atender para fazer justiça a estes profissionais.

Sónia Marques, professora do Ensino Especial com mais de 20 anos de carreira, trazia um cartão vermelho para mostrar ao Governo. "Comecei a dar aulas em 1998 e neste momento estou no 4º escalão e não sei quando vou passar para o 5º. Já devia estar no 6º ou 7º. Nós merecemos respeito, trabalhamos todos os dias pelos nossos alunos e apesar de acharem que não, nós amamos o que fazemos", disse esta professora.

Também Nuno, professor de Educação Física há 25 anos, tentou fazer as contas ao escalão onde deveria estar posicionado caso fosse tido em conta toda a carreira. Hoje está no 5º escalão, mas com todos os anos contados e mais o mestrado pré-Bolonha que tirou, "já devia estar no 8º a passar para o 9º escalão". Veio de Abrantes para se manifestar "não pelos meus direitos individuais, que estão colocados em causa, mas pelo futuro da educação neste país, da geração da minha filha que está aqui comigo e das gerações futuras".

Perto dele estava Fernanda, que veio de Sines e é professora de história há 30 anos. Diz que o sentimento que tem é de "desilusão pelo esquecimento em relação aos professores, assitentes operacionais e outros trabalhadores da escola pública. É humilhante a situação que nos fazem passar. E não é de agora, é um problema que já vem de há duas décadas e tem de se alterar, senão a profissão de docente e a escola publica morre e é uma vergonha para este país". Para esta professora, "está tudo errado, eles não resolvem o que têm de resolver, que é contar o tempo de serviço que as pessoas trabalharam e é desbloquear a carreira, pois não se admite que um professor com Excelente não progrida na carreira".