Maioria absoluta trouxe "absoluta precariedade" à vida das pessoas

29 de janeiro 2023 - 18:08

No encerramento do encontro "Inconformação", Catarina Martins criticou as políticas do primeiro ano da maioria absoluta do PS e defendeu que só uma "rotura a sério" com a especulação imobiliária e a lei da selva laboral pode dar estabilidade a quem vive em Portugal.

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Encerramento do encontro "Inconformação" ete domingo em Lisboa. Foto Jovens do Bloco de Esquerda.

Catarina Martins interveio este domingo no encerramento do "Inconformação", um fim de semana de debates promovido pelos jovens do Bloco. E começou por destacar a importância do combate de ideias para fazer frente ao neoliberalismo e às sua "política do salve-se quem puder" e do individualismo que procura convencer as pessoas a "desistirem de correr em nome de um futuro que possa ser melhor".

"O Inconformação é o avesso disto, inconformamo-nos com essa ideia de que tem de ser pior", contrapôs, defendendo uma "rotura a sério" com o mercado de especulação imobiliária, a lei da selva do trabalho e o patriarcado, pois são essas lutas "que podem trazer a estabilidade onde ela conta, que é na vida das pessoas".

Em seguida lembrou que "por estes dias temos um ano de maioria absoluta" que ficou marcado pela "absoluta precariedade das vidas de quem vive do seu trabalho em Portugal".

"Um ano de maioria absoluta e o que temos é a absoluta arrogância de quem não ouve o país”, prosseguiu a coordenadora bloquista, acrescentando-lhe “um absoluto desprezo pelas dificuldades de quem vive do seu trabalho”, uma “absoluta cumplicidade com o privilégio da elite que fica sempre com mais” e ainda uma “absoluta incapacidade de responder ao país”.

“Enquanto a política e os negócios se confundem e acham normal gastar milhões, seja num palco, seja numa administração milionária da TAP ou do que for, há uma escola pública que está toda ela na rua a pedir meios que não tem” ou um Serviço Nacional de Saúde “que luta verdadeiramente pela sobrevivência do acesso à saúde em Portugal e lhe faltam todos os meios”, sublinhou Catarina.

"Direita quer estar no Governo para fazer exatamente o mesmo"

A coordenadora do Bloco apontou ainda a falta de respostas eficazes para a crise na habitação, criticando os que dizem que na origem dessa crise estaria a falta de oferta. “A direita diz sempre que é preciso construir mais, como se não estivesse a ver o número de casas vazias que tem Portugal, ou como se não conhecesse o perigo climático de continuar a construir, a construir, sem pensar em nehuma organização”. E por outro lado, “como se não soubesse que o que está a ser construído são habitações para segmentos de luxo, animados por uma política que faz com que Portugal seja um país de serviços de mão-de-obra barata para acolher bem a elite de privilégio do resto do mundo”.

“É esta a política da crueldade, da desigualdade da maioria absoluta. E quando vemos a direita muito escandalizada caso após caso, não nos enganemos: tudo o que querem é poder estar no Governo para fazer exatamente o mesmo que a maioria do PS”, acusou.

No entanto, Catarina deixou o alerta de que “as maiorias absolutas podem muito, mas podem muito pouco contra maiorias sociais. As maiorias sociais fazem mover montanhas, e até maiorias absolutas, fazem tremer o mundo e é para isso que aqui estamos”.

No início da sessão de encerramento do Inconformação, Leonor Rosas falou das várias sessões deste fim de semana de debates que abordou o pensamento de figuras como Karl Marx, Rosa Luxemburgo, Amílcar Cabral, Simone de Beauvoir, Lenine, Kollontai, Trotski, Angela Davis e Gramsci, além de uma sessão de abertura que discutiu a situação na América Latina. E defendeu o resgate para a esquerda da ideia de progresso, que "foi privatizada pelo sistema capitalista, transformando-se numa ideia de triunfo individual, de passar à frente do próximo, de capacidade de singrar na vida a qualquer custo e não por um caminho de libertação coletivo". "Queremos de volta o nosso futuro, as nossas expetativas, as nossas esperanças, e só nós as podemos recuperar", concluiu.