Vistos gold: poucos empregos criados e empresas fechadas antes do prazo

29 de dezembro 2022 - 13:48

Em dez anos só 22 vistos gold foram dados na modalidade de criação de emprego. Criaram em média 13 empregos. Das 16 empresas cujos nomes são conhecidos, duas foram criadas antes do programa vistos gold sequer existir, quatro já fecharam e uma mudou de dono.

PARTILHAR
Foto Jernej Furman/Flickr.
Foto Jernej Furman/Flickr.

Nos últimos dez anos só houve 22 vistos gold na modalidade de criação de empregos. Estes requerem a criação de no mínimo dez empregos mas o total de empregos criados foi de apenas 280, o que quer dizer que a média foi inferior a 13 por empresa. Para além disso, algumas destas empresas mudaram de patrão ou encerraram.

Estas contas são apresentadas pelo Público esta quarta-feira que confirma mais uma vez que “o programa serviu, essencialmente, para atrair investimento estrangeiro em imobiliário”. 90% das 11.384 autorizações de residência concedidas entre o lançamento do programa, em outubro de 2012, e o passado mês de novembro foram para aquisição de bens imóveis (10.488 vistos, um investimento de 5.981 milhões de euros). Dos restantes, 874 autorizações foram devidas a transferência de capitais (um investimento de 693 milhões).

Apesar do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras não revelar o nome das empresas que foram criadas por causa da “criação de emprego”, aquele jornal teve acesso a uma troca de correspondência com a Transparência Internacional Portugal, em 2020, na qual surge o nome de 16 delas. Foi a partir daqui que analisou os dados dos atos societários que constam no Ministério da Justiça.

O resultado é que duas das empresas “foram constituídas muito antes da entrada em vigor do programa de “vistos gold”, uma mudou de mãos, não sendo certo o que aconteceu ao fundador, e outras quatro já foram liquidadas (três das quais menos de cinco anos depois de terem sido constituídas, o período mínimo de investimento exigido para a manutenção da autorização de residência).”

A empresa que mudou de acionista foi identificada como a Paymentwall Portugal, de serviços de pagamentos, criada por um ucraniano em 2016 e vendida em 2019. Entre as que foram encerradas, a

Amouri Services, criada em 2013 em Águeda por dois argelinos, e que se dedicava oficialmente à prestação de uma enorme lista de serviços na área da indústria, mudou de nome em 2015 para Aladtc Services e foi dissolvida em 2020. Assim, foi a única que cumpriu o prazo mínimo de cinco anos dos vistos gold.

As outras são a Diversity Trading, de “importação e exportação”, criada em 2015 em Lisboa e fechada em 2017; a Paraíso das Letras, também de Lisboa mas da área da educação e formação profissional, criada em 2016 e liquidada em 2019; a 1818 Engineering, criada em 2017 em Cascais e liquidada em 2020, que se dedicava a consultoria de tecnologias de informação e engenharia.

O SEF declarou àquele órgão de comunicação social “tendo a empresa em causa cessado actividade antes dos cinco anos, o seu titular perde direito à autorização de residência por via do programa ARI”. O mesmo organismo não respondeu sobre o que aconteceu às seis outras empresas não referidas à Transparência Internacional Portugal, dizendo que o pedido de informação irá ser avaliado “podendo estar em causa a lei da proteção de dados”.