Relatora da ONU denuncia o racismo do capitalismo verde

28 de dezembro 2022 - 14:33

Tendayi Achiume critica que a implementação de alternativas aos combustíveis fósseis esteja a ser feita através da criação de “zonas de sacrifício verdes” onde indígenas e grupos marginalizados sofrem os males do extrativismo ou são deslocados à força.

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Foto de Manuel Elias/ONU.
Foto de Manuel Elias/ONU.

A relatora especial da Organização das Nações Unidas sobre formas contemporâneas de racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância relacionada, Tendayi Achiume, que está em fim de mandato, avisa que confiar em soluções tecnológicas capitalistas para resolver a crise ecológica perpetua o racismo.

A professora de Direito na Universidade da Califórnia, em entrevista ao Guardian, explica que soluções como carros elétricos ou renaturalização de terras estão a ser implementadas à custa dos povos indígenas, dos grupos racializados e marginalizados etnicamente. Para ela, “não é possível pensar que se pode resolver primeiro a crise climática e depois tratar da justiça racial ou da discriminação racial” porque “cada ação empreendida relativamente à crise ecológica (…) tem implicação na justiça racial e assim torna-se um meio de subordinação racial”.

Esta relação entre racismo e crise ecológica foi abordada no último relatório à Assembleia Geral da ONU publicado em outubro. Nele se enfatizava que “a crise ecológica global é simultaneamente uma crise de justiça racial e que “os efeitos devastadores da crise ecológica são suportes de forma desproporcional pelo grupos marginalizados racial, étnica e nacionalmente”, que vivem “nas áreas atingidas mais duramente pela poluição, perda de biodiversidade e alterações climáticas”.

Achiume acrescenta que a corrida a alternativas aos combustíveis fósseis, com as energias renováveis e os carros elétricos, estão a criar “zonas de sacrifício verdes” nas quais os grupos já marginalizados são expostos aos males causados pela extração dos minerais necessários para as tecnologias verdes. Para além disso, “comunidades indígenas e racialmente marginalizadas estão a ser deslocadas devido às inovações que supostamente nos levariam a uma energia limpa. E é aí que se vê que uma transição verde, a não ser que esteja explicitamente centrada na justiça racial, pode ser feita às custas da reprodução de injustiças raciais”.

Na base destes problemas está o capitalismo: “estamos basicamente outra vez a tentar lucrar com a saída de uma crise que é definida por uma abordagem que defende que é sustentável lucrar com a saída da crise”, conclui Tendayi Achiume.

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