Tensão sobe no Kosovo

28 de dezembro 2022 - 19:53

Mais barricadas foram construídas esta terça-feira em Mitrovica pela comunidade sérvia no Kosovo. A Sérvia colocou exército e polícia no estado de alerta mais elevado e o Kosovo fechou o principal posto fronteiriço com este país. É o reacender de um conflito que nunca ficou resolvido.

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Barricada em Rudare, Kosovo, a 11 de dezembro. Foto de EPA/STR/Lusa.
Barricada em Rudare, Kosovo, a 11 de dezembro. Foto de EPA/STR/Lusa.

Pessoas identificadas com a comunidade sérvia no Kosovo construiram mais barricadas esta terça-feira em Mitrovica, uma cidade do norte do país, escalando os protestos que duram há semanas. Aleksandar Vucic, presidente da Sérvia, colocou o exército e a polícia no estado de alerta mais elevado. E esta quarta-feira, o Kosovo fechou o principal ponto fronteiriço com a Sérvia em Merdare.

Estes desenvolvimentos vêm na sequência de meses de tensão entre a Sérvia e o Kosovo. O primeiro episódio que despoletou a recente contestação foi o ultimato do governo kosovar, a 31 de julho, para os sérvios trocarem as matrículas dos seus carros do país vizinho por matrículas do Kosovo no espaço de dois meses. Os protestos, que incluíram a demissão de presidentes de Câmara, juízes e cerca de 600 polícias sérvios, fizeram com que a medida fosse adiada para o próximo ano.

Mas um segundo episódio veio incendiar os ânimos: a 10 de dezembro um ex-polícia sérvio foi preso e acusado de ter atacado outro polícia num protesto anterior. A partir daí várias barricadas foram sendo construídas no norte do Kosovo e houve tiroteios entre as partes. Entretanto, as autoridades judiciais dizem que vai ser libertado e colocado em prisão domiciliária.

A independência do Kosovo, em 2008, nunca foi aceite pela Sérvia. E a minoria sérvia no Kosovo, cerca de 5% da população, tem desobedecido várias vezes às autoridades de Pristina. Muitos defendem a criação de um território autónomo nos municípios de maioria sérvia, proposta recusada pelo governo.

Agora, do lado sérvio, diz-se que o Kosovo não respeita os direitos da minoria sérvia. O ministro da Defesa alega até que se teme um ataque do governo kosovar contra os sérvios do Kosovo. Do lado do governo do Kosovo, acusa-se Belgrado de acicatar as tensões, instrumentalizando os sérvios kosovares para desestabilizar o país. Pede-se a intervenção da Nato para retirar as barricadas mas lança-se o aviso de que as forças do país o podem fazer por si só. Recorde-se que a Nato tem 3.700 militares numa “força de manutenção de paz” e a EULEX, a Missão da União Europeia para o Estado de Direito no Kosovo, tem 200 polícias no terreno.

O pano de fundo do conflito implica também as alianças de cada um dos lados. A Sérvia é um tradicional aliado russo. E o porta-voz do Kremlin Dmitry Peskov comunicou esta quarta-feira o seu apoio às tentativas do país de proteger os 50.000 sérvios do Kosovo, tendo recusado as acusações do ministro do Interior kosovar, Xhelal Svecla, de que seriam os russos que estariam por detrás do escalar da situação, incentivando a Sérvia a “justificar e proteger grupos criminosos que aterrorizam… cidadãos de etnia sérvia que vivem no Kosovo”. Peskov diz que “a Sérvia é um país soberano e é absolutamente errado procurar pela influência destruidora da Rússia aqui”.

O Kosovo, por sua vez, é aliado ocidental. Em 1998-99, a Nato interveio no território, então parte da Sérvia, com o expediente de estar a proteger os kosovares de etnia albanesa, a esmagadora maioria dos cidadãos do país. Numa declaração conjunta, União Europeia e EUA apelaram “a todos que exerçam a máxima contenção, que tomem imediatamente ação para desescalar a situação e evitar provocações, ameaças ou intimidações”.

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