2022 foi ano recorde da aposentação de médicos no SNS

27 de dezembro 2022 - 19:53

Quase 800 médicos aposentaram-se este ano, um número superior ao de 2014. Queixas dos utentes sobre acesso a cuidados de saúde são a maioria das reclamações recebidas pelo regulador.

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Foto de Paulete Matos

Na última década, a única vez que o número de médicos no SNS a passarem à reforma tinha superado a fasquia dos 700 foi em 2014, ano em que a idade legal de reforma aumentou para os 65 anos e muitos anteciparam a saída para não  serem prejudicados. Nos números consultados pelo Público, este ano bateu esse recorde, com 782 médicos a pedirem a passagem à reforma.

O fenómeno do envelhecimento da classe médica é natural e bem conhecido dos decisores políticos, mas continuam a faltar medidas para fixar estes profissionais no SNS. A vaga de aposentações continuará nos próximos anos, à medida que os profissionais que construíram o SNS desde a sua entrada no final  da década de 1970 começam a chegar à idade de reforma. E tem sido atenuada pelo facto de muitos terem preferido adiar esse momento para poderem dar resposta àsnecessidades durante o período da pandemia de covid-19.

Já saiu a revista Esquerda Saúde nº 3

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A edição de novembro de 2022 já está disponível online. Em destaque, a crise do SNS e a falta de respostas do Governo. Leia aqui a revista em formato pdf.

Parágrafos

O terceiro número da revista Esquerda Saúde inclui artigos sobre o debate orçamental para a Saúde, a troca de ministros no Governo, a situação dos Técnicos Superiores de Diagnóstico e Terapêutica, o ensino da Medicina, a gestão do SNS, a crise nas urgências, entre outros.

O editorial da Esquerda Saúde faz o rescaldo do "verão quente" no setor, com a demissão da ministra, a aprovação do novo Estatuto do SNS e a nomeação de uma direção executiva para o Serviço Nacional de Saúde.

Ainda sobre a crise do SNS nos últimos meses, com encerramento de maternidades e urgâncias de obstetrícia, Tânia Russo aponta que a pressão nas urgências obriga a deslocar profissionais e não há vontade política para suprir essas carências de profissionais. Jessica Pacheco fala da situação na Região Autónoma dos Açores, onde num dos hospitais já se gasta mais em horas extraordinárias do que em salários. E Mário André Macedo reflete sobre o que deve ser feito para alterar um sistema que é ineficiente e produz maus resultados.

Noutro artigo desta edição, Luís Mós fala da ausência das reivindicaçoes dos enfermeiros na proposta orçamental do Governo, enquanto se verifica um impasse negocial entre o novo ministro Manuel Pizarro e os sindicatos quanto às progressões nas carreiras, a contagem dos pontos e a não discriminação salarial.  

A revista publica ainda um testemunho de Maria Ribeiro, uma enfermeira que emigrou para a Bélgica no início da carreira e fala do que tem sido a sua experiência e das razões para ainda não ter regressado a um país que não valoriza estes profissionais. A enfermeira Fernanda Lopes fala do estado atual da enfermagem em Portugal, com as promessas do Governo a nunca se concretizarem.

A situação dos técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica, que na maioria ainda esperam que o Governo reconheça os seus anos de carreira, é o tema de dois artigos de Eloísa Macedo e Nuno Malafaia.

Pedro Vilão Silva, estudante do quinto ano de Medicina, fala da realidade atual do ensino médico em Portugal, confrontando vários modelos. E Gisela Almeida aborda os desafios da gestão do SNS e do modelo de contratualização.


Descarregar revista Esquerda Saúde nº 3 em pdf


Ler edições nº 2 e nº 1

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Para João Rodrigues, coordenador da reforma dos cuidados de saúde primários, este número fica até aquém das suas previsões no início do ano, quando contabilizava cerca de mil médicos em condições de sair em 2022, incluindo os que mesmo aposentados tinham regressado com contrato temporário. “Muitos médicos de família continuam a trabalhar até aos 70 anos e é isso que nos tem ajudado”, refere em declarações ao Público. Em novembro, havia 428 médicos aposentados no ativo no SNS e esta medida que procura compensar a falta de especialistas começou por ser transitória mas já dura desde 2010.

Por seu lado, o ex-presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar não acredita que haja muitos médicos de família a quererem permanecer no SNS até aos 70 anos. “Estamos muito cansados, muito desanimados. Estamos exauridos. Os mais velhos querem sair e os mais novos não querem entrar”, diz Rui Nogueira, para quem a solução "passa não só por aumentos salariais mas também por condições de trabalho".

Acesso aos cuidados de saúde lidera reclamações entregues à ERS

Esta terça-feira o jornal Público noticia que a Entidade Reguladora da Saúde recebeu mais de 50 mil reclamações no início do ano, com pouco mais de dois terços a referirem-se a cuidados de saúde no setor público, incluindo em unidades geridas em regime de parceria público-privadas. Trata-se de um aumento de 33,8% face ao mesmo período de 2021.

As regiões do Norte, Lisboa e Vale do Tejo e Centro concentram a maioria dos estabelecimentos de saúde alvo destas reclamações. Quanto aos temas, destacam-se o “Acesso a Cuidados de Saúde”, com um total de 14.091 menções ao tema, os “Cuidados de Saúde e Segurança do Doente”, com 12.093 menções, e os “Procedimentos administrativos”, com 7517 menções. No primeiro tema, o maior volume de queixas - 38% do total - diz respeito ao tempo útil/razoável de resposta dos serviços. No segundo, 64% das queixas referem o assunto da adequação e pertinência dos cuidados prestados. E no terceiro são a covid-19 (22%) e a qualidade da informação prestada (19%) que lideram a lista.

Além das cerca de 50 mil reclamações, o regulador recebeu ainda mais de nove mil elogios e 321 sugestões, além de 243 processos que incluem mais do que uma categoria. Os profissionais de saúde são os principais destinatários das mensagens elogiosas (30%), seguidos do funcionamento dos serviços de apoio (22%, clínicos (12%) e administrativos (11%).

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