Inquérito parlamentar conclui que Trump deve ser julgado

20 de dezembro 2022 - 19:53

O comité que investigou o ataque ao Capitólio conclui que há provas suficientes de que o ex-Presidente dos EUA quis perturbar a transição de poder e ajudou à insurreição.

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Foto da sessão final publicada na conta Twitter da Comissão de Inquérito.

Após ano e meio de trabalhos, a comissão da Câmara de Representantes que passou a pente fino os acontecimentos que levaram à invasão do Capitólio e à morte de cinco pessoas decidiu recomendar à justiça que acuse o ex-Presidente Donald Trump de vários crimes. Entre eles estão o de ajuda à insurreição e de conspiração contra o governo. O relatório completo da comissão deverá ser divulgado esta quarta-feira, mas já está disponível um resumo de 150 páginas.

É a primeira vez na história dos EUA que o Congresso recomenda acusações contra um antigo chefe de Estado. "A comissão acredita que há prova mais do que suficiente para uma queixa criminal em relação ao antigo Presidente Trump por dar assistência, ajuda ou apoio àqueles que no Capitólio tomaram parte de um ataque violento aos Estados Unidos", afirmou o congressista Jamie Raskin na sessão final da comisão, citado pelo Guardian.

"Colocar um voto na urna nos Estados Unidos é um ato de fé e esperança. Quando pomos o voto na urna, esperados que as pessoas cujo nome aparece no boletim cumpram a sua parte deste acordo", afirmou Bennie Thompson, que liderou os Democratas nesta comissão, acrescentando que "Donald Trump quebrou essa confiança. Perdeu as eleições de 2020 e sabia disso. Mas escolheu tentar continuar no poder através de um esquema para anular os resultados e bloquear a transferência de poder".

A republicana Liz Cheney sublinhou na sua intervenção a decisão de Trump no dia 6 de janeiro de 2021, ao preferir assistir pela televisão ao motim em vez de agir para parar a invasão do Capitólio. "Nenhum homem que se comporta desta forma num momento daqueles poderá alguma vez vir a servir em qualquer cargo de autoridade no nosso país", afirmou Cheney, declarando Trump "inapto para qualquer cargo".

Outra das figuras que a comissão quer ver acusada é o advogado do ex-presidente, John Eastman, considerado o arquiteto do plano para anular a vitória de Biden, pressionando o vice-presidente Mike Pence a não certificar as votações. Mas também aparece na lista o nome de Kevin McCarthy, apontado para vir a liderar a Câmara de Representantes quando tomar posse a maioria republicana saída das eleições de novembro.

As recomendações desta comissão não são vinculativas, mas somam-se às investigações contra Trump que o Procurador-Geral Merrick Garland já tem em mãos. Uma delas visa os mesmos factos investigados pelos deputados, outra prende-se com os documentos secretos que Trump terá levado da Casa Branca quando saiu do cargo. Destes processos dependerá em muito o futuro político de Trump, que apesar de ter anunciado a sua candidatura à Presidência em 2024 vê-se ultrapassado nas sondagens junto do eleitorado republicano pelo atual governador da Florida, Ron DeSantis.

Como tem acontecido ao longo dos trabalhos da comissão, a campanha de Trump reagiu às suas conclusões com ataques à legitimidade do órgão, falando em "julgamentos-espetáculo dos partidários do 'Never Trump' que são uma nódoa na história deste país".