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Gestores de topo portugueses ganham 52 vezes mais que trabalhadores

Em 2018, o vencimento médio dos líderes das maiores empresas portuguesas foi 52 vezes maior que o dos trabalhadores que dirigem. A desigualdade entre patrões e trabalhadores tem crescido ao longo desta década.
António Mexia. Foto António Cotrim/Lusa.
António Mexia continua a ser o executivo que mais ganha em Portugal. Foto António Cotrim/Lusa.

Em 2018 os líderes das maiores empresas portuguesas ganharam 52 vezes mais que os seus trabalhadores. São cálculos do JN/Dinheiro Vivo, que analisou os vencimentos dos executivos das empresas do PSI20, a partir dos relatórios anuais de contas apresentados pelas mesmas.

Em média, os líderes das empresas do PSI20 ganharam em 2018 1,1 milhões de euros brutos — valor que inclui salários, prémios de desempenho e contribuições para planos de pensões. Apesar de um ligeiro recuo em relação ao ano anterior, este valor tem estado a subir: em 2014, há cinco anos, era de 700 mil euros, já então 33 vezes mais que o vencimento médio dos trabalhadores.

Desde o início da década, o salário dos patrões aumentou 50%. A desigualdade crescente dentro destas empresas deve-se por um lado ao aumento de vencimento dos quadros de topo, por outro lado à descida dos salários dos trabalhadores, relativa ou mesmo absoluta. Desde 2014, as despesas com pessoal estão estagnadas, e em 2018 tiveram mesmo um ligeiro recuo: cada empresa gastou em média 21 100 euros por trabalhador, em 2018 gastou 21 700. Estes valores dizem respeito não apenas a trabalhadores em Portugal mas também no estrangeiro, onde as empresas do PSI20 também operam: metade dos postos de trabalho em análise são fora de Portugal.

O campeão da desigualdade é a Jerónimo Martins: o CEO Pedro Soares dos Santos ganhou 1,9 milhões de euros, 140 vezes mais que os seus trabalhadores. Esta disparidade explica-se em grande parte com a vasta presença do grupo na Polónia, onde os salários dos trabalhadores são muito mais baixos. Se as empresas em média gastam 21 mil euros por trabalhador por ano, o grupo dos supermercados Pingo Doce gasta apenas 13,5 mil euros. É o que menos gasta em salários.

A EDP tem em António Mexia o CEO que mais ganha no país, 2,2 milhões de euros em 2018. Apesar de ficar acima de Soares dos Santos, Mexia ganha "apenas" 39 vezes mais que os seus trabalhadores, pois estes têm salários mais altos que os da Jerónimo Martins. Este "apenas" é enganador, pois a EDP é em todo o caso das empresas mais desiguais, onde a diferença entre patrões e trabalhadores é um múltiplo acima de 30.

Outros exemplos de empresas desiguais são a GALP (Carlos Gomes da Silva, 1,7 milhões de euros, 35 vezes mais que os trabalhadores), a Semapa (João Castello Branco, 1,4 milhões, 33 vezes mais), e a Sonae (Paulo Azevedo, 657 mil euros, 37 vezes mais). A leque de desigualdade varia bastante e, não deixando de ser grande, é menor em empresas como a Corticeira Amorim (António Rios, 360 mil euros, 12 vezes mais que os trabalhadores) e a REN (Rodrigo Costa, 600 mil euros, 8 vezes mais).

Em setembro do ano passado, o Bloco apresentou uma proposta para diminuir as desigualdades salariais em Portugal. José Soeiro criticou o facto de Portugal ser “o quarto país da União Europeia com a maior desigualdade salarial”, e ilustrou alguns exemplos graficamente. Nos CTT era preciso "uma lupa" para ver o que ganha um trabalhador ao pé do chefe, pois “um carteiro que ganhe 612 euros precisa de 106 anos para ganhar o mesmo que um gestor num ano”. Já no Pingo Doce era "preciso um microscópio, porque o trabalhador tem de trabalhar 345 anos para ganhar que o gestor da mesma empresa ganha num ano”. A proposta para introduzir limites aos leques salariais das empresas foi rejeitada com os votos contra do PS, PSD e CDS.

Termos relacionados Economia, fosso salarial, Sociedade
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