“Governo tem de prestar contas por tornar insustentável o futuro neste país”

19 de março 2014 - 19:47

Durante o debate quinzenal com o primeiro ministro, a coordenadora do Bloco acusou a banca portuguesa de fazer dos "contribuintes parvos" e pediu ao primeiro-ministro um "compromisso de que nenhum cêntimo vai ser gasto para as perdas dos bancos". “Não podemos continuar a ter uma política de insustentabilidade para quem vive neste país em nome da sustentabilidade dos credores”, frisou Catarina Martins.

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Referindo que “a imprensa económica tem dado conta da intenção do Governo de criar um veículo financeiro sustentado pelo Estado para o crédito mal parado dos bancos em Portugal e outros ativos que dão prejuízo”, a coordenadora nacional do Bloco frisou que “os mesmo portugueses que vivem a redução de salários e pensões, a perda de emprego, de apoios sociais” não podem “ser mais uma vez chamados a pagar as perdas da banca”.

“Depois dos 5 mil milhões do BPN, das recapitalizações do BCP, do Banif e do BPI, não podemos aceitar sequer que o Governo esteja a pensar criar um veículo financeiro semelhante à Parvalorem”, defendeu Catarina Martins.

A dirigente bloquista pediu, neste contexto, ao primeiro-ministro um "compromisso de que nenhum cêntimo vai ser gasto para as perdas da banca".

Pedro Passos Coelho respondeu que "não há nenhuma contingência nesta altura que indique que haja qualquer banco que necessite de operações de recapitalização”, frisando, contudo, que se tal fosse porventura necessário o Governo não permitiria para a economia portuguesa "o risco de poder vir a ter uma crise bancária". “Se isso vier a acontecer, e em termos que não posso especular nem devo, o Governo cá estará para assumir as suas responsabilidades como fez no passado", assinalou o primeiro ministro.

A coordenadora nacional do Bloco registou que Pedro Passos Coelho não deu qualquer garantia de não voltar a encher os cofres dos bancos e frisou que “a banca tem feito dos contribuintes parvos”, porque estes têm pago todas as suas perdas.

Governo faz número de propaganda eleitoral com redução de benefícios fiscais

Lembrando que os partidos da maioria apresentaram, nas vésperas das eleições autárquicas, um conjunto de projetos sobre benefícios fiscais para as famílias numerosas e que, a 18 de outubro, esses mesmos partidos pediram o adiamento da votação destas propostas e deixaram os projetos “em banho maria” até agora, Catarina Martins questionou se “é desta que vai haver alguma política fiscal para a natalidade ou se é sempre e só propaganda eleitoral”.

“Tudo o que de bom o Governo tenta anunciar nunca vai para a frente e as famílias sabem que ficam sempre e só com as más notícias, ficam sempre e só a pagar mais, mesmo quando já nem se percebe o que é que estão a pagar”, acrescentou.

Governo trata funcionários públicos como “um porquinho mealheiro”

"A posição do primeiro-ministro sobre a ADSE é bem clara: não é preciso mais dinheiro para a ADSE, que até está equilibrada, mas pode vir a ser. É portanto um imposto e os funcionários públicos são tratados pelo Governo como um porquinho mealheiro", avançou ainda a coordenadora nacional do Bloco de Esquerda.

“Não podemos continuar a ter uma política de insustentabilidade para quem vive neste país em nome da sustentabilidade dos credores”, afirmou Catarina Martins, acusando Passos Coelho de não se importar "absolutamente nada de não pagar salários nem pensões, de não cumprir com as obrigações na saúde e na educação, desde que possa cumprir com as obrigações para os credores”.

Governo “tem de prestar contas por tornar insustentável o futuro neste país”

Catarina Martins não pôde ainda “deixar de notar que este debate começou com um não debate”. “Sobre a reunião de há dois dias, sobre o que une e aproxima PS e PSD nem uma palavra. A divergência insanável parece ter ficado sanada a tempo. Talvez tenha servido para o senhor primeiro ministro levar o fiel líder do partido socialista, nas palavras da senhora Merkel, no bolso do casaco com que foi a Berlim prestar contas”, avançou a dirigente bloquista.

“O senhor primeiro ministro tem de prestar contas em Portugal, tem de prestar contas por tornar insustentável o futuro neste país”, rematou Catarina Martins.

Durante o debate preparatório do Conselho Europeu, que também contou com a participação de Pedro Passos Coelho, a deputada do Bloco acusou o Governo de desvalorizar o Conselho Europeu ao prestar contas a Berlim.

“Quem manda neste governo é claramente Angela Merkel”, enfatizou.

"Eu bem sei que estes debates são para debater o Conselho Europeu. O nosso problema é, como na Alice do País nas Maravilhas, saber quem manda. E quem manda é a senhora Merkel", reforçou a coordenadora do Bloco.

Segundo Catarina Martins, vivemos uma verdadeira “crise de democracia e soberania”, estando “reféns dos interesses alemães”.

“É preciso renegociar com os credores em nome do país”, defendeu a dirigente bloquista.