"Não há nenhum rigor num país que permite toda a facilidade à finança"

08 de março 2014 - 22:11

Durante a festa dos 15 anos do Bloco, que teve lugar este sábado, no Porto, Catarina Martins referiu-se ao facto de Jardim Gonçalves ter visto a sua condenação anulada, lamentando que o Governo tenha "dois pesos e duas medidas" e que “a quem vive do seu trabalho seja retirado tudo”. A eurodeputada Marisa Matias frisou que “a escolha nas próximas eleições é entre a austeridade ou a política de emprego”.

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Foto de Paulete Matos.

"No momento em que sabemos que Jardim Gonçalves viu as suas multas perdoadas, que prescreveram, perguntamos de que rigor nos falam. Quando um banqueiro que tinha de pagar um milhão de euros de multas, porque ficou com o que não devia ter ficado, pode ser perdoado, ao mesmo tempo que quem tem salários de miséria continua a sofrer cortes sobre cortes, questionamos se é esse o rigor social a que se referem", afirmou Catarina Martins.

"Não há nenhum rigor num país que permite toda a facilidade à finança", frisou, lamentando que Portugal tenha "dois pesos e duas medidas" e que aos financeiros seja “sempre dado tudo” e “a quem vive do seu trabalho seja sempre retirado tudo".

A dirigente bloquista reagia assim à notícia avançada esta sexta feira de que todas as acusações do Banco de Portugal contra o ex presidente do BCP, Jorge Jardim Gonçalves, acusado de ter prestado declarações falsas e de ter falsificado as contas do banco através de 17 sociedades sedeadas em paraísos fiscais, prescreveram, isentando o banqueiro do pagamento de 1 milhão de euros de multa e da inibição de exercer qualquer função no setor financeiro durante nove anos.  

“A direita está a enterrar os povos da Europa para salvar a finança”

“Temos vivido dias difíceis, que mostram bem a importância do património da forma de fazer política do Bloco” - com transparência e “com todos e em todos os lugares, sem áreas de sombra” -, referiu Catarina Martins.

“Quando Passos Coelho elogia o percurso dos governos de direita europeia, afirmando que estes salvam a Europa e o euro, e quando Durão Barroso aponta a Grécia como um caso de sucesso, sabemos que as palavras que dizem não correspondem à vida que vivemos”, avançou, sublinhando que a direita está, na realidade, “a enterrar os povos da Europa para salvar a finança”.

A deputada garantiu que o Bloco não vai "pactuar" com uma política que "transforme" Portugal na "país da falta de dignidade e da humilhação de quem vive do seu trabalho".

"Não vamos alterar a situação em Portugal se continuarmos a achar que é normal, uma qualquer Comissão Europeia, um qualquer FMI ou um qualquer BCE venha aqui dizer que rigor orçamental é cortar nos salários, enquanto dá benefícios fiscais", rematou.

A coordenadora nacional do Bloco fez ainda referência, durante a sua intervenção, à morte, este fim de semana, de Fina d'Armada, sublinhando que a “feminista, investigadora, ativista, mulher forte de luta” teve esta “combinação exemplar” de ter “procurado na história o que estava escondido para mostrar que as mulheres estiveram a fazer o futuro em todos os momentos e de ter estado, ao mesmo tempo, durante toda a vida e até ao fim, em todos os movimentos sociais, com todas as gerações, em todas as lutas pela emancipação, pela igualdade, em todas as lutas pela dignidade”.

“A escolha nas próximas eleições é entre a austeridade ou a política de emprego”

A cabeça de lista do Bloco às eleições europeias, Marisa Matias, frisou que "não podemos permitir que a austeridade tenha vindo para ficar e durar”, fazendo referência às palavras do presidente da República escritas no prefácio do "Roteiros VIII".

“A escolha nas próximas eleições é entre a austeridade ou a política de emprego. Escolher entre cumprir o memorando ou a Constituição. Defender o estado orçamental ou defender o país. O que está em causa nas eleições europeias é escolher entre fazer o que nos mandam ou não fazer o que nos mandam. Defender o nosso país é desobedecer a esta Europa", enfatizou a dirigente bloquista.

A eurodeputada afirmou ainda que "o chamado programa de ajustamento não tem rigorosamente nada a ver com ajustamento", lembrando que o défice e a dívida estão sempre a subir, bem como os impostos e as taxas de desemprego.

A festa dos 15 anos do Bloco de Esquerda teve lugar na sede do Porto, que foi decorada, em alusão ao Dia Internacional dos Direitos das Mulheres, com seis pinturas com rostos e frases de feministas, da autoria da pintora e professora Sílvia Carreira.

A iniciativa contou ainda com um debate sobre “O Tratado Comercial dos EUA/Europa e as suas implicações”, com intervenções de João Teixeira Lopes e Carlos Santos, e com um momento musical.