“O pleno emprego deve estar no centro da política”

29 de abril 2014 - 19:43

Marisa Matias alertou também para o regresso do trabalho escravo à União Europeia, no encerramento da mesa redonda sobre emprego, em que participaram Catarina Martins, Mariana Aiveca e sindicalistas. Foi ainda divulgada uma lista de mais de cem apoiantes da área sindical e laboral à lista do Bloco de Esquerda para as europeias.

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Foto de Cláudia Oliveira

Regresso do trabalho escravo à União Europeia

A mesa redonda com o título "Por um programa europeu de pleno emprego" teve lugar nesta terça-feira, 29 de abril, na Casa da Imprensa em Lisboa e nela foi divulgada uma lista de mais de cem apoiantes da área sindical e laboral à lista do Bloco de Esquerda às próximas eleições europeias.

Marisa Matias denunciou: "Não é a austeridade que está a resolver o problema das contas públicas, pelo contrário, está a agravá-las. Ao colocar a dívida no centro está-se a agravar o problema das contas públicas e está-se a agravar o problema da própria dívida que não pára de aumentar. O que nós precisamos é do contrário da austeridade: a austeridade provoca recessão, a recessão provoca mais desemprego, provoca mais desequilíbrio das contas públicas".

A eurodeputada frisou também que "o tratado orçamental é incompatível com uma política de pleno emprego, como a austeridade é incompatível com uma política de pleno emprego, como são incompatíveis com a criação de emprego com direitos".

Marisa Matias disse também que o "pouco emprego" que tem sido criado é um "emprego sem direitos", "o emprego da retórica do empreendedorismo ou do emprego precário ou do emprego voluntário à força" e alertou que “o trabalho escravo regressou ao espaço da União Europeia", relatando o caso de 21 portugueses trabalhadores da construção civil que viviam num T0 em Bruxelas, sem receberam qualquer salário.

Catarina Martins frisa que a Europa vive um problema de emprego

“Não há nenhuma saída para a crise que não passe pelo emprego, pela criação de emprego e pelos direitos do trabalho” afirmou a coordenadora do Bloco de Esquerda na sua intervenção no início da mesa redonda.

A coordenadora do Bloco declarou que “é central colocar na campanha eleitoral das europeias a questão do pleno emprego”, considerando que “o problema que a Europa vive não é o problema das dívidas soberanas, mas do emprego”.

"O problema que a Europa vive não é um problema de dívidas soberanas, o problema que a Europa vive é de emprego, o centro da ação tem de estar na criação de emprego, tem de estar na recuperação daquela que é uma prioridade inscrita na Constituição da República Portuguesa, mas também não falta em nenhum dos tratados europeus embora tenha estado esquecido, que é o pleno emprego", destacou Catarina Martins.

Lutar por menos horas de trabalho e mais emprego

[caption align="right"]Foto de Paulete MatosFoto de Paulete Matos[/caption]

Mariana Aiveca, na sua intervenção, denunciou que “o capital precisa do exército de desempregados, por isso não há nenhum esforço no combate ao desemprego”.

A deputada do Bloco salientou que “a evolução tecnológica tem que ser posta ao serviço das pessoas”, com “mais tempo para a participação, mais tempo para a cidadania, mais tempo para a felicidade”.

Mariana Aiveca sublinhou, relativamente à reforma, que “a evolução não pode ser usada contra as pessoas” e que o Bloco defende: “reforma após 40 anos de trabalho e descontos, como forma de criar emprego e como forma de pagar a dívida para com as gerações que entraram no mercado do trabalho com 12/14 anos”.

Na mesa-redonda participaram sindicalistas, ativistas do mundo laboral e da luta dos precários e outros candidatos e candidatas do Bloco da lista das europeias, nomeadamente: António Chora, coordenador da CT da Autoeuropa; Luísa Cabral, ativista dos movimentos de reformados; Francisco Alves, membro do conselho nacional da CGTP; Jorge Silva, dirigente da Associação Solidariedade Imigrante; Sofia Amaro, ativista dos direitos dos emigrantes portugueses na Europa.

Nas intervenções das pessoas presentes, ativistas do mundo laboral, foi dado relevo às questões da precariedade, sendo alertado que os próprios anúncios de emprego se transformaram numa selvajaria, sem referência à entidade patronal final, salário ou tipo de contrato.

Foram ainda referidos outros direitos que estão em causa com o ataque da política de austeridade, nomeadamente os direitos das mulheres. Foi frisado que é necessário lutar por mínimos europeus para se conseguir combater o dumping social e sublinhado que a luta hoje é “por menos horas de trabalho, mais emprego e no mínimo igual salário, para que haja um patamar mínimo de dignidade”.

Foto de Paulete Matos