Semedo acusa Portas de transformar o país num “paraíso para burlões”

23 de março 2014 - 2:10

No jantar em Coimbra que assinalou os 15 anos do Bloco, o coordenador do Bloco atacou os vistos dourados e os “quase 30 salários mínimos” com que o Governo pretende remunerar o presidente da comissão instaladora do banco de fomento.

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João Semedo no jantar dos 15 anos do Bloco em Coimbra. Foto Paulo Novais/Lusa

O coordenador do Bloco fez um balanço da política da troika e do Governo para concluir que “o país está mais desigual e mais injusto”. João Semedo deu o exemplo da recente contratação para a presidência do organismo que vai criar o Banco de Fomento, com um salário de “quase 30 salários mínimos nacionais”, quando “o mesmo governo resiste ao aumento do salário mínimo nacional”.

Reagindo à notícia da detenção de um cidadão chinês que tinha comprado o “visto dourado” criado por Paulo Portas e começou depois a ser procurado pela Interpol por fraudes na China, Semedo afirmou que “é razão para nos envergonharmos" por causa de uma medida que transforma "este país num paraíso para burlões”.

Semedo disse ainda que esta operação policial mostra que se trata de “um sistema para que os amigos dourados de vice-primeiro-ministro Paulo Portas vivam tranquilamente a lavar o dinheiro no país”, quando o mesmo "Paulo Portas que cria este sistema andou há pouco mais de três anos a brandir a espada da justiça contra o crime”.

João Semedo também se referiu ao arquivamento da queixa do Bloco de Esquerda contra Rui Machete, por ter mentido à Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso BPN. O atual ministro dos Negócios Estrangeiros escreveu à comissão antes de ser ouvido, garantindo que nunca tinha sido acionista do grupo que controlava o banco. Mas o Ministério Público decidiu arquivar a queixa, por considerar que a mentira de Machete não afetou o resultado da comissão. “A mentira de Rui Machete protegeu Rui Machete da Comissão de Inquérito. O arquivamento do Ministério Público protegeu a mentira de Rui Machete. Isto não é justiça”, declarou João Semedo, que fez parte da Comissão de Inquérito.

Marisa Matias: “Tratado Orçamental deve ser referendado”

A cabeça de lista do Bloco às europeias defendeu que os portugueses devem ser chamados a pronunciar-se sobre o Tratado Orçamental, porque ele “é a garantia de que a troika continua depois da troika e que ficaremos condenados a uma austeridade sem fim”.

“Tem que se perguntar às pessoas se querem repetir por mais 30 anos aquilo que se passou nos últimos três anos. Estou certa de que nenhum português dirá que sim", afirmou Marisa Matias sublinhando que “o Tratado é a linha que nos divide no combate das eleições europeias”. "Defender o nosso país é desobedecer a esta Europa", concluiu Marisa Matias.

Na intervenção inicial deste jantar que reuniu cerca de duas centenas de apoiantes, José Manuel Pureza resumiu alguns dos traços essenciais da política e da atividade do Bloco ao longo dos últimos quinze anos. “Cometemos todos os erros que só cometem os que não fogem da luta e estão na luta de corpo inteiro. E ganhámos nestes quinze anos todas as batalhas onde a esquerda não desistiu de ser esquerda”, declarou o dirigente do Bloco, depois de sublinhar que ao fim destes quinze anos persiste a mesma “divergência insanável com a fatalidade de se ser socialista só no nome mas nunca na prática política, seja no governo ou fora dele”.

“Estes foram quinze anos em que o Bloco esteve sempre no coração das mudanças que reforçaram a dignidade, o trabalho, os Direitos Humanos e a justiça na economia”, prosseguiu Pureza, antes de apresentar a luta “por uma Europa que tem de ser o avesso daquela que existe, dessa Europa que só serve para nos punir, para punir os seus e lhes tirar os direitos no horizonte”.