Três perguntas que ninguém parece querer fazer sobre o “novo banco”

porFrancisco Louçã

05 de agosto 2014 - 0:08
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Durante o fim de semana, alguns comentadores terão recebido um telefonema cordial do ministério das finanças a dar os detalhes da engenharia financeira que o Governador haveria de anunciar domingo às 22h53. O telefonema foi simpático, mas esqueceu-se de dar três detalhes...

Durante o fim de semana, deu-se o milagre: alguns comentadores terão recebido um telefonema cordial do ministério das finanças a dar a cada um, em primeira mão e em total exclusivo, os detalhes explicadinhos da engenharia financeira que o Governador haveria de anunciar às 22h53 deste domingo, no meio da sua enxurrada de autojustificações.

O telefonema foi simpático, mas esqueceu-se de dar três detalhes, e os destinatários, encantados com a distinção, parece que não perguntaram.

Primeiro detalhe: os bancos que se responsabilizam pelo empréstimo da troika ao Fundo de Resolução não exigem uma garantia do Estado? Quem acredita que Ulrich ou Amado vão tirar as castanhas do lume dos Espírito Santo, arriscando os seus próprios bancos, que levante a mão. Se, além disso, acredita que estes bancos esperam em seis meses recuperar o valor (para ser logo depois ser vendido a um novo proprietário que lhes vai disputar o mercado) de um banco de que tanta gente vai tirar os depósitos na 2ªf de manhã, então merece ser santificado. O Estado, ou seja, as nossas carteiras, vai dar a garantia. Vamos ter de pagar.

Segundo detalhe: os credores que foram exilados no “banco mau”, mas que fizeram operações com o BES, o tal banco de dois milhões de depositantes, vão aceitar agora perder o seu dinheiro sem levarem a tribunal o Estado ou o “novo banco”? E os pequenos acionistas? Vamos ter de pagar, se a coisa corre mal.

Terceiro detalhe: nos empréstimos com dinheiro da troika ao BCP e BPI, o Estado ficava com ações do banco (embora fossem ações especiais com direitos diminuídos) e tinha ainda assim uma palavra nas suas operações. Agora, vai emprestar a um Fundo que não tem recursos próprios, entrega o controlo da coisa aos outros bancos e não tem uma palavra a dizer sobre a condução e estratégia das operações financeiras. É dar o ouro ao concorrente do bandido.

Qual o prazo, quais os juros, quais os contratos, quais os despedimentos, tudo isso é mistério. Mas as três perguntas que não ficaram respondidas é que vão custar muito caro aos contribuintes.

Artigo publicado em blogues.publico.pt às 23.17h de 3 de agosto de 2014

Francisco Louçã
Sobre o/a autor(a)

Francisco Louçã

Professor universitário. Ativista do Bloco de Esquerda.
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